A técnica peeling na higiene podal ou Peeling Podal, Peeling Plantar como também é conhecido foi desenvolvido pela Enfermeira Marcia Regina Polillo , tem como componente o uso de sabonetes íntimos vaginais como um recurso terapêutico complementar no tratamento de onicomicoses através da técnica do peeling ungeal.
O termo peeling vem do verbo em inglês “to peel” e significa descamar, portanto é um processo em que há a remoção das camadas mais superficiais da unha levando a esfoliação e remoção de células superficiais, seguida da formação de um nova população celular.
Ensaios clínicos conduzidos por profissionais de podologia demonstram que a técnica do peeling ungueal com o uso de sabonetes íntimos vaginais é um recurso que reduz significativamente o tempo de cura dos tratamentos das ornicomicoses, além de ser um recurso bastante importante na prevenção de recidivas.
Uso off label de medicamentos e produtos
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) considera que o uso off label de um produto é feito por conta e risco do profissional que o recomenda, e na maioria das vezes trata-se de uso essencialmente correto, apenas ainda não aprovado formalmente.
O termo off label traduzido do inglês deve ser entendido como fora do rótulo, ou mais especificamente fora das indicações registradas junto ao órgão sanitário regulador.
O termo se refere à prática da prescrição de um medicamento ou indicação de um produto de forma diferente daquela descrita na bula,ou das indicações registrados no órgão regulador.
Quando um medicamento ou produto é empregado para uma situação clínica para o qual não foi aprovado, está caracterizado seu uso off label, ou seja, o uso não aprovado, que não consta da bula.
Um exemplo clássico é o ácido acetilsalicílico, utilizado inicialmente como medicação anti-inflamatória, mas que por experimentos e práticas clínicas demonstrou ter a função de inibir a atividade das plaquetas – responsáveis pela formação de coágulos nas artérias, e hoje é uma das principais medicações para quem tem infarto e acidente vascular cerebral (AVC). Tais indicações possivelmente constarão da bula do medicamento ou do produto de higiene pessoal após realização de ensaios clínicos e laboratoriais.
Classificação regulatória de produtos de higiene pessoal
De acordo com as regras sanitárias brasileiras, mais especificamente os termos da RDC/ANVISA 04/2014, produtos cosméticos e de higiene pessoal são definidos como preparações constituídas por substâncias naturais ou sintéticas, de uso externo nas diversas partes do corpo humano, pele, sistema capilar, unhas, lábios, órgãos genitais externos, dentes e membranas mucosas da cavidade oral, com o objetivo exclusivo ou principal de limpá-los, perfumá-los, alterar sua aparência e ou corrigir odores corporais, protegê-los ou mantê-los em bom estado.
Estes produtos são classificados da seguinte forma:
Produtos Grau 1: são produtos de higiene pessoal e cosméticos cuja formulação se caracteriza por possuír propriedades básicas ou elementares, cuja comprovação não seja inicialmente necessária e não requeiram informações detalhadas quanto ao seu modo de usar e suas restrições de uso, devido às características intrínsecas do produto.
Produtos Grau 2: são produtos de higiene pessoal e cosméticos cuja formulação e características exigem comprovação de segurança e/ou eficácia,através de testes clínicos e laboratoriais, bem como informações e cuidados, modo e restrições de uso.
Os critérios para esta classificação foram definidos em função da probabilidade de ocorrência de efeitos não desejados devido ao uso inadequado do produto, sua formulação, finalidade de uso, áreas do corpo a que se destinam e cuidados a serem observados quando de sua utilização.
Os sabonetes íntimos vaginais são classificados como produtos de higiene pessoal de grau 2, quer seja, são produtos de higiene pessoal cuja formulação possuem indicações específicas, cujas características exigem comprovação de segurança e/ou eficácia, bem como informações e cuidados, modo e restrições de uso.
A formulação básica de um sabonete intimo vaginal varia de produto para produto porem quase todos apresentam os seguintes componentes:
- ácido láctico
- óleo de melaleuca
- oligossacárido alfa – glucano
- copolímero de acrilatos
- lauril sulfato de sódio
- hidroxietilcelulose
- metilparabeno
- ácido fosfórico
- hidróxido de sódio
- sulfato de laureth de sódio
- di-estearato de glicol
- água
Em relação PH, que significa “potencial hidrogeniônico”, uma escala logarítmica que mede o grau de acidez, neutralidade ou alcalinidade de uma determinada solução, os sabonetes íntimos vaginais apresentam PH neutro, diferentes de outros sabonetes que são mais alcalinos. As substâncias são consideradas ácidas quando o valor de pH está entre 0 e 7 e alcalinas (ou básicas) entre 7 e 14.
O PH neutro confere aos sabonetes íntimos vaginais uma condição de não desencadear reações alérgicas nem de interferir na microbiota vaginal.
Importante esclarecer, ainda, que a legislação sanitária brasileira exige que os fabricantes de produtos de higiene e cosméticos tenham como responsável técnico um profissional da área de química , ou da área de farmácia , com as funções de fazer as formulações dentro dos conceitos das boas práticas de fabricação(BPF), de controlar e supervisionar todo o processo produtivo e de conduzir os testes de qualidade e eficácia do produto. Estes testes tem que ser referendados por outra empresa ligada à área de controle de qualidade atendendo ao princípio do hetero controle.
Os resultados destes testes são auditados pela equipe técnica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) .
Revisão bibliográfica sobre ornicomicoses
As ornicomicoses são infecções causadas por fungos, que precisam de tratamento em praticamente todos os casos para que se obtenha a cura.
Os fungos são micro-organismos vivos bastante resistentes, que vivem no solo, animais e no homem, e podem causar doenças que são adquiridas pelo contato direto com alguns destes fungos.Os fungos se desenvolvem mais facilmente em ambientes quentes e úmidos.
Há uma falsa idéia de que micoses são contraídas apenas em praias ou piscinas, mas os fungos habitam praticamente todos os lugares. Assim, as micoses podem ser contraídas nos mais diversos ambientes, especialmente em lugares quentes e úmidos como vestiários, boxes de banheiros, alguns ambientes profissionais em que prevalece a umidade ou ainda por questões higiênicas, aumento de sudorese, uso de tecidos sintéticos, que aumentam a sudorese, não absorvendo o suor e consequentemente criando um ambiente úmido.
Quando uma ornicomicose se instala , a unha pode sofrer um espessamento, alterar sua forma e aparência, mudar sua coloração, algumas vezes se tornar mais frágil e quebradiça e, em outros casos, fica endurecida.
Algumas vezes a unha pode descolar-se da pele do dedo. As micoses de unha podem ser causadas por diferentes fungos e podem se apresentar de formas diferentes, demonstrando apenas um ou combinações dos sinais descritos acima. Em outros casos, as micoses de unha não apresentam sintomas, mas podem ser a porta de entrada para outras infecções, como a erisipela, uma grave infecção de pele, e pode gerar dor, mal estar, inchaço e febre.
A queratina, proteína que forma as unhas, é um substrato ideal para o crescimento e a proliferação dos fungos.
Epidemiologia das ornicomicoses
Ao longo dos últimos dez anos, a incidência de infecções importantes causadas por fungos tem aumentado. Estas infecções estão ocorrendo como infecções nosocomiais e em indivíduos com sistema imunológico comprometido. Os fungos podem infectar o organismo de diversas formas.
As infecções podem ser ligeiras e passar despercebidas, ou graves e por vezes mortais. Alguns fungos estão constantemente presentes, sem gerarem doença, em zonas do organismo como a boca, a pele, o intestino e a vagina. A presença da microbiota bacteriana residente e as defesas imunitárias do organismo impedem-nos de se disseminarem.
As micoses mais graves desenvolvem-se nos indivíduos submetidos a terapêuticas antibióticas de longo prazo (que alteram o equilíbrio entre fungos e bactérias) e nas que tomam corticosteroides ou imunossupressores.
As micoses graves manifestam-se frequentemente nos doentes com HIV, ou que apresentam defesas imunitárias comprometidas, como por exemplo pacientes que passaram por tratamentos de quimioterapia.
Nestes casos, os fungos podem atacar os órgãos internos, difundir-se ao sangue e se tornar mortais. As micoses mais comuns são as superficiais, que afetam a pele, os pêlos, o cabelo, as unhas, os órgãos genitais e a mucosa oral.
O principal mecanismo de defesa contra fungos é desenvolvido pelos fagócitos, que os destroem por meio da produção de NO e de outros componentes secretados por essas células. Portanto, pacientes que apresentam neutropenia (menos de 500 neutrófilos/mm3) ou que tenham deficiência da imunidade celular, cursam com freqüência com micoses recorrentes e ocasionalmente desenvolvem formas graves e profundas (Summerbell & Weitzman, 1995).
As micoses são doenças produzidas por fungos, podendo ser superficiais ou profundas. Nas superficiais, a pele, unhas e cabelos são agredidos, dando origem a enfermidades. Nas micoses profundas são os órgãos internos que são atingidos primordialmente, como pulmão, esôfago e intestinos.
Do ponto de vista de inter-relação com o hospedeiro, as micoses podem ser saprofitárias, onde o hospedeiro é passivo e fornece nutrientes e nicho ecológico para o hóspede, e as não saprofitárias, onde ocorre resposta inflamatória do ser infectado.
Etiologia
A onicomicose é causada primariamente por dermatófitos, Candida spp. e outros fungos não dermatófitos. Entre os agentes fúngicos, os dermatófitos, particularmente Trichophyton rubrum, são os mais comuns desses patógenos.
Os dermatófitos são dependentes da queratina, proteína que envolve todo corpo, mas que não tem distribuição homogênea, fazendo com que as diversas espécies de dermatófitos se atraiam por diferentes partes do tegumento.
Estão descritas 40 espécies de dermatófitos, mas apenas 11 infectam o ser humano. Os dermatófitos se dividem, conforme seu hábitat natural e preferência pelo hospedeiro, em três grandes grupos:
- Geofílicos: fungos habitantes preferenciais do solo e eventuais de seres humanos e animais;
- Zoofílicos: preferem animais, mas eventualmente infectam seres humanos;
- Antropofílicos: infectam principalmente os seres humanos
Atualmente, Candida spp. pode invadir a unha distal e proximal. As ornicomicoses provocadas por fungos não dermatófitos vêm aumentando em sua prevalência, e, pela similaridade clínica com a onicomicose por dermatófito, é necessário o diagnóstico laboratorial para sua correta diferenciação
Dermatófitos
Trichophyton rubrum
T. mentagrophytes var. mentagrophytes
T. Maletagrophytes var. interdigitale
T. tonsurans
T. tonsurans Microsporum canis
Epidermophyton floccosum
Não dermatófito e outros microorganismos
Scytalidium dimidiatum
Curvularia sp.
Trichosporon beigelii
Nocardia sp.
Candida spp.
Transmissão
A transmissão direta entre os portadores de micose de unha não é comum. Entretanto um indivíduo com micose nas unhas atua como fonte de infecção, pois os fungos que estão em suas unhas, em grande quantidade, podem passar para o ambiente, como por exemplo, para o box do banheiro ou vestiários e facilitar a infecção de outras pessoas.
Os fungos que estão causando a micose de unhas podem também infectar outras partes do corpo, principalmente as mais próximas como os pés e a região entre os dedos dos pés, causando a Tinea pedis, popularmente conhecida como a “frieira” ou “pé de atleta”. Outras áreas do corpo também podem ser infectadas dando origem a outras micoses.
Instrumental para manicure e podologia, lixas e demais utensílios que estejam contaminados com fungos causadores de micose, também pode transmiti-la, tornando imperioso a adoção de corretos procedimentos de esterilização e uso de artigos descartáveis e de uso único.
Tratamento das onimicoses
A micose de unha pode ser curada com adoção de tratamentos sistêmicos , tópicos ou conjugados, e em geral tem duração relativamente longa.
As drogas utilizadas atualmente como antifúngicas podem ser divididas em dois grupos, dependendo da localização da sua ação: os azólicos e os alilamínicos. Ambos os agentes inibem o crescimento dos fungos, interferindo na síntese do ergosteral na parede celular.
A terbinafina (alilamina) inibe a esqualeno epoxidase que age precocemente na cadeia da síntese do ergosteral (Quadro 1). Ela provoca o acúmulo do esqualeno que é tóxico para a célula fúngica e resulta na morte precoce das mesmas (atividade fungicida)
Atualmente, medicamentos e recursos modernos encurtaram o período de tratamento.
Medicamentos comumente utilizados e posologia
- Itraconazol – 200 mg/dia – 4 meses – ou 400 mg/dia por 7 dias do mês, repetindo por três meses.
- Terbinafina – 250 mg/dia – 3 a 6 meses.
- Fluconazol – 150 mg/semanal – 4 a 6 meses.
- Griseofulvina – 50 mg/dia – 12 meses.
- Cetoconazol – 200 mg/dia – 8 meses .
Medicamentos de uso tópico
O tratamento tópico é eficaz em casos menos extensos, comprometimento de um terço da unha.
– Amorolfina – esmalte aplicado 2 vezes por semana – 6 meses.
– Ciclopiroxolamina – esmalte, também aplicado 2 vezes por semana – 6 meses.
Tratamentos tópicos de uso em podologia
As atuais técnicas de podologia englobam o uso de produtos e equipamentos que oferecem a possibilidade de cura das ornicomicoses, de forma isolada ou em conjunto a medicação sistêmica ou tópica.
- Terapias fotodinâmicas
- Ozonoterapia
- Óleos essênciais
- Aplicação de Cosméticos de uso tópico
- Aplicação de produtos de higiene de uso tópico
Descrição da Técnica do Pelling Ungueal
A técnica preconizada para a realização do Peeling Ungueal é bastante simples e de valor acessível aos usuários dos serviços de podologia.
Consiste na formação de um “kit” individualizado formado por:
- Escova de nylon para unhas
- 1 frasco de 150 ml contendo sabonete liquido vaginal
Na foto abaixo é possível visualizar o “kit” pelling ungueal
O usuário é orientado a fazer a aplicação domiciliar do produto no mímino 2 vezes ao dia
No local de atendimento o sabonete íntimo vaginal é aplicado nas unhas do usuário pelo profissional de podologia através da fricção vigorosa antes e após a realização dos atendimentos.
Uma advertência importante a ser feita é que deve-se usar sempre um sabonete intimo vaginal industrializado, pois conforme já foi descrito, o mesmo passa por testes de qualidade e eficiência. A prática clinica demonstrou que quando se usa sabonete intimo vaginal manipulados em farmácias de manipulação os resultados não são os mesmos.
Conclusões
Pelos estudos apresentados neste trabalho fica claro que as ornicomicoses se apresentam:
- Com diversos graus de severidade;
- Com etiologia multi fatorial;
- Com alto grau de recidiva.
Por estas características o tratamento para ser efetivo é obtido com o uso de recursos multi terapêuticos.
Impossível acreditar, e tecnicamente insustentável, que apenas uma das diversas técnicas possa ser eficiente em todos os casos que se apresentam diariamente nos serviços de podologia.
Neste cenário a técnica do peeling ungueal com o uso de sabonete intimo vaginal é um recurso que se demonstrou eficiente clinicamente, de baixo custo, legalmente amparado e com uma especificidade própria: incentivar as práticas de prevenção dos ornicomicoses, pois durante a explanação para o uso domiciliar da técnica o usuário é orientado para que mantenham ambientes como boxes, beiras de piscinas, vestiários, rigorosamente limpos e na medida do possível secos, evitar calçados ou outros fatores que causem ferimentos nos pés, entre outras recomendações mais especificas para cada caso.
Inicialmente ridicularizado por alguns profissionais a técnica do Peeling Ungueal com o uso de sabonete intimo vaginal ganha rapidamente o reconhecimento de sua eficácia por parte dos profissionais de podologia, da indústria de produtos de higiene pessoal e principalmente por parte dos usuários dos serviços, o que leva a crer que num curto espaço de tempo, a técnica passará a ser feita por um sabonete de uso podológico e não mais com o uso de sabonete intimo vaginal .